Minha filha, minha vida

Quando li a matéria no Yahoo! O abraço de uma mãe é poderoso! se abriu minha caixinha de lembranças e me lembrei dos momentos mais difíceis e, depois, mais felizes da minha vida. Há exatamente 10 anos atrás eu descobri que estava grávida (sozinha e desempregada). Mesmo sem ter planejado este foi o melhor momento da minha vida. Em momento algum me passou pela mente o interrompimento da gravidez ou qualquer outra besteira. Me preocupava com como iria ser criar um filho sozinha, mas enfrentei tudo e todos, pois ainda existe muito preconceito no mundo.

Minha Princesinha com 50 dias
Minha gestação corria dentro dos conformes, todo mês fazia o pré natal, exames, tomava vitaminas, tudo normal com tem que ser. Mas como eu estava desempregada, fiquei muito ansiosa e fiz algumas "artes", como por exemplo arrastar móveis de um lado para o outro.

No quinto mês comecei a sentir o bebê mexer e também muitas dores pélvicas. Não podia caminhar até a esquina que sentia dores. A ginecologista me disse que estava tudo bem e que isso era normal, que logo passaria. A dor me acompanhou por quase dois meses. No dia 26 de fevereiro perdi água e o médico diagnosticou "bolsa rota". Chorei muito, pois naquele instante ele me disse: "ou você vai para o hospital ou o seu bebê morre, porque não tem mais água pra ele aí".

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Aquelas palavras cortaram meu coração, me feriram, mas eu entendi o tamanho do problema. Na mesma noite fui internada no hospital e a partir dali fora os 11 dias  mais longos da minha vida. Fiquei no quarto das gestantes e recém paridas, o que aumentava minha angústia e minha dor. Não conseguia dormir direito, não podia levantar. A única coisa que eu fazia era comer. Não posso me esquecer: tomar soro e remédios.

Longos dias. Queria ir para casa logo, esperar os dois meses que faltavam com a minha família. Um sonho, apenas em sonho. No dia 08 de março, numa ecografia para ver como meu bebê estava, o mesmo médico que me internou me disse: "está completamente seco, não temos como esperar, teu bebê vai nascer hoje". Mais uma vez o choro me dominou. Como meu pequeno bebê iria nascer? Não podia ser. Mas foi.

Às 22:53 minha filha nasceu. Foi cesariana e na sala havia uma grande equipe. Ela não chorou, eu segurei o choro e a respiração. Naquele momento entreguei a minha filha nas mãos de Deus e confiei. Até que uma obstetra que acompanhava o parto disse: "eu falei que enganava, esta viva, esta viva". Respirei profundamente e deixei as lágrimas rolarem. Agradeci a Deus, pois só ele poderia ter me concedido aquela glória.

Muito pequenina, com apenas 1.300 kg, nasceu a minha razão de viver. O momento mais difícil foi voltar para o quarto e não ter o meu bebê nos braços, pois ela ficou na UTI Neo natal. Graças a operação tive que ficar mais 3 dias no hospital, eram dias divididos entre a angústia de estar num quarto cheio de mães com seus bebês e a felicidade de ainda estar dentro do hospital, perto da minha filha.

Outro momento de lágrimas, foi o dia em que tive que ir embora. A moça da comida me perguntou se eu não queria comer, mas eu não tinha condições, na minha garganta havia um grito preso, uma vontade de bater o pé e só sair dali com a minha filha. Mais uma vez tive que entender que era para o bem dela e ir para casa.

Graças a Deus a minha pequena não teve nada grave, como me dizia os médicos, ela apenas nasceu prematura, o que naquele momento era muito importante. No começo ela não mamava e eu podia tocá-la dentro da incubadora. Eu levava o leite todos os dias e ficava lá o máximo que meu corpo aquentasse, não queria deixá-la. Posso dizer que passei minha quarentena toda em idas e vindas do hospital.

Para poder ter alta ela tinha que atingir 2 kg, mas isso parecia impossível, ela aumentava 100 g  num dia e perdi 200 g no outro. Quando ela alcançou 1,500 kg começou a mamar no peito, e o meu maior sonho se tornou pesadelo, pois quando se esforçava para mamar ela perdia gramas preciosas, fora que tivemos algumas dificuldades iniciais.

Foram 44 dias de sufoco e idas e vindas do hospital, nessa fase eu ia para dar o mama das 9 horas e ficava com ela atá as 15 horas, para falar com o médico e poder curti-la. Num dia bonito de sol saio de casa para dar a mamada da manhã para minha filha, peguei o ônibus e quando entrei no hall do hospital encontrei o meu pai. Minhas pernas amoleceram e pensei o pior, meu pai viu minha cara e disse: "Viemos buscar a Aninha, ela está de alta". Adivinha só, lágrimas rolaram novamente, mas agora foram de muita alegria e felicidade.

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